“O amor é a emoção que constitui as
ações de aceitar o outro
como um legítimo outro na convivência.”
Maturana, 2002
ações de aceitar o outro
como um legítimo outro na convivência.”
Maturana, 2002
A tecnologia faz parte de nosso cotidiano mas como acontece e como lidamos com isso? Partindo de nossas próprias práticas, como diz Barbosa (2002): “(...) cada produto (e/ou) regra comporta tantas formas de uso quantos são os sujeitos que o utilizam”. (1) E muitas vezes a objetividade científica não consegue ver e ou reconhecê-las. Volto a cidade de Ji-Paraná (no interior de Rondônia, BR), onde trabalhei como Orientadora Pedagógica do projeto SESC-LER (2) (alfabetização de jovens e adultos).
No início da implementação do projeto, para divulgá-lo, utilizei vários recursos disponíveis na cidade. Dei entrevistas às rádios, à televisão, mas descobri que, talvez, a ação mais eficaz seria a fórmula mais antiga: bater de porta em porta explicando o projeto. Fui até onde trabalhavam, sob sol ardente, grupos de pessoas limpando e roçando as ruas. É provável que isso seja impossível de imaginar no nosso cotidiano urbano, mas lá isso era muito importante e significativo.
A turma teve início com 26 alunos, entre 20 e 66 anos de idade, e em poucos dias percebi que não seria suficiente ensinar a ler e escrever. As necessidade de alfabetização eram outras, bem maiores... Como diz Alves (1998) (3):
“É preciso compreender, ainda, que aos contextos cotidianos correspondem processos educativos múltiplos que estão presentes nos diferentes e diversos espaços/tempos, institucionalizados ou não, de educação e de tessitura de conhecimento”
Um estudante estava faltando muito às aulas. Quando retornou, conversamos e pedi que me telefonasse, quando precisasse faltar.
“E eu lá sei mexer com esse troço, professora?”, disse ele.
“Como, Seu Francisco? O senhor não sabe usar o telefone?”
“Eu não! Ainda mais agora com esse tal de cartão!”
Fiquei pasma, acho que por alguns segundos. Mas logo disse, sorrindo:
“Bom, então vamos resolver esse problema. Alguém mais não sabe usar o telefone?”
Outros levantaram a mão e percebi que alguns ficaram com vergonha. Mas sabia que, de alguma forma, eles utilizavam essa tecnologia. Então perguntei como o faziam, e as respostas revelaram que dependiam do auxílio de outras pessoas, e para isso andavam com uma “cola” do número no bolso.
Eles não dominavam recursos tecnológicos da modernidade do modo convencional, mas os desafios faziam com que descobrissem outros usos e formas alternativas de lidar com a tecnologia, sobrevivendo e superando o analfabetismo funcional e tecnológico a que eram relegados. Mas era visível que, na sociedade letrada e tecnologizada em que vivemos, o que restava para eles era ficar à margem e dependentes.